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São José: Uma devoção de atualidade renovada

Redação (Quinta-feira, 16-03-2017, Gaudium Press) Em tempos difíceis para a Igreja, Pio IX, querendo confiá-la à especial proteção do Santo Patriarca José, proclamou-o “Patrono da Igreja Católica”.1

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Convencido estava o Pontífice de não ser este um ato despropositado, pois, devido à excelsa dignidade concedida por Deus a este seu fidelíssimo servo, “a Igreja – depois da Santíssima Virgem, sua esposa -prestou sempre grandes honras e cumulou de louvores o Bem-aventurado José e recorreu preferentemente a ele nas grandes dificuldades”.2

Sua proteção é sempre necessária à Igreja

Quais são os motivos de tamanha confiança? O Papa Leão XIII os expõe: “As razões pelas quais São José deve ser considerado Padroeiro especial da Igreja, e esta, por sua vez, deve confiar muitíssimo em seu amparo e patrocínio, nascem sobretudo do fato de ser ele esposo de Maria e pai putativo de Jesus […]. José foi, a seu tempo, legítimo e natural custódio, chefe e defensor da Sagrada Família. […] Portanto, é coisa conveniente e sumamente digna do Bem–aventurado José que ele, da mesma forma como costumava proteger santamente em qualquer circunstância a Família de Nazaré, defenda agora com seu celeste patrocínio a Igreja de Cristo”.3

Sua proteção é sempre necessária à Igreja e deve ser invocada, não só como defesa contra os renascentes perigos, mas também e sobretudo como sustentáculo de seu redobrado esforço de evangelização no mundo e de nova evangelização nos países e nações onde, como escrevi na Exortação apostólica Christifideles laici, “a religião e a vida cristã foram outrora tão florescentes” e se encontram hoje “sujeitas a dura prova”.4

Para levar o primeiro anúncio de Cristo ou para reapresentá-lo onde ele foi negligenciado ou esquecido, a Igreja precisa de uma especial “força do alto” (Lc 24, 49), a qual é decerto um dom do Espírito Santo, não, porém, sem vínculo com a intercessão e o exemplo de seus Santos.

Exemplo que transcende os estados individuais de vida

Além de sua confiança na segura proteção de São José, a Igreja confia também no seu insigne exemplo, um exemplo que transcende os estados individuais de vida e é proposto a toda a comunidade cristã, quaisquer que sejam nesta as condições e os deveres de cada fiel.

Como assinala a constituição do Concílio Vaticano II sobre a divina Revelação, a atitude fundamental de toda a Igreja deve ser a da “religiosa escuta da Palavra de Deus”,5 ou seja, a da absoluta disponibilidade para servir fielmente a vontade salvífica de Deus, revelada em Jesus. Já no início da Redenção encontramos o modelo da obediência encarnado, depois de Maria, precisamente em José, o qual se distingue pela fiel execução das ordens de Deus.

Paulo VI convidava a invocar o seu patrocínio “como costuma fazer a Igreja, nestes últimos tempos, primeiro por ela mesma, com uma espontânea reflexão teológica sobre a íntima ligação da ação divina com a ação humana na grande economia da Redenção, na qual a primeira, ou seja, a divina, é por si mesma totalmente suficiente, mas a segunda, a nossa, embora de todo incapaz (cf. Jo 15, 5), nunca é dispensada de uma colaboração humilde, mas condicional e nobilitante. Ademais, a Igreja o invoca como protetor em razão de um profundo e atualíssimo desejo de revigorar a sua secular existência de verdadeiras virtudes evangélicas, tais como refulgem em São José”.6

Proteção diante das ameaças que pesam sobre a humanidade

A Igreja transforma em preces essas exigências. Recordando que Deus confiou os primórdios de nossa Redenção à solícita custódia de São José, pede a ele que lhe conceda a graça de colaborar fielmente com a obra de salvação, que lhe dê a mesma fidelidade e pureza de coração que o animaram no serviço do Verbo Encarnado, bem como a graça de caminhar perante Deus nas vias da justiça e da santidade, seguindo seu exemplo e sustentada por sua intercessão.7

Há cem anos, o Papa Leão XIII exortava o mundo católico a rezar ara obter a proteção de São José, patrono de toda a Igreja. A Encíclica Quamquam pluries fazia menção àquele “amor paterno” de José ao Menino Jesus; e a ele, “próvido guarda da Sagrada Família”, recomendava “a querida herança que Jesus Cristo adquiriu com seu Sangue”. Desde então a Igreja, como recordei no início, implora a proteção de São José, “por aquele sagrado vínculo de amor que o uniu à Virgem Imaculada, Mãe de Deus” e lhe confia todas as suas preocupações, incluísive pelas ameaças que pesam sobre a família humana.

Temos ainda hoje numerosos motivos para rezar da mesma maneira: “Afastai para longe de nós, ó pai amantíssimo, esta peste de erros e de vícios; do alto do Céu, assisti-nos propício nesta luta contra o poder das trevas; e como outrora livrastes da morte a vida ameaçada do Menino Jesus, defendei agora a Santa Igreja de Deus das ciladas dos inimigos e de todas as adversidades”.8 Temos ainda hoje motivos permanentes ara recomendar cada pessoa à proteção de São José.

Atualidade desta oração para a Igreja do nosso tempo

Desejo ardentemente que esta recordação da figura de José renove também em nós a ênfase da oração que há um século meu predecessor recomendou elevar a ele. É certo, de fato, que esta oração e a própria pessoa de José adquirem uma renovada atualidade para a Igreja de nosso tempo, em relação ao novo milênio cristão.

A todos nós o Concílio Vaticano II sensibilizou mais uma vez para as “grandes coisas de Deus”, para aquela “economia da salvação” da qual José foi de modo especial ministro. Recomendando-nos, pois, à proteção daquele ao qual o próprio Deus “confiou a guarda de seus maiores e mais preciosos tesouros”,9 dele aprenderemos ao mesmo tempo a nos pormos a serviço da “economia da salvação”. Que São José se torne para todos um particular mestre no serviço à missão salvífica de Cristo, o qual na Igreja é obrigação de todos e de cada um: dos esposos, dos pais, dos que vivem do trabalho das próprias mãos ou de qualquer outro trabalho, das pessoas chamadas à vida contemplativa, bem como aquelas chamadas ao apostolado.

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São João Paulo II
Excerto da Exortação apostólica “Redemptoris custos”, 15/8/1989
(in “Revista Arautos do Evangelho” – Março – 2017 – n. 183)


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1 SAGRADA CONGREGAÇÃO
DOS RITOS.
Quemadmodum Deus, 8/12/1870: ASS 6 (1870), 194.

2 Idem, 193.

3 LEÃO XIII. Quamquam pluries, 15/8/1889: ASS 22 (1889-1890), 66-67.

4 SÃO JOÃO PAULO II. Christifideles laici, n.34: AAS 81 (1989), 454.

5 CONCÍLIO VATICANO II. Dei Verbum, n.1.

6 BEATO PAULO VI. Homiliana Solenidade de São José,19/3/1969.

7 Cf. SOLENIDADE DE SÃO JOSÉ. Oração do Dia; Sobre as oferendas. In: MISSAL ROMANO. Trad. portuguesa da 2a. edição típica para o Brasil realizada e
publicada pela CNBB com acréscimos aprovados pela Sé Apostólica. 10.ed. São
Paulo: Paulus, 2006, p.563; MISSA VOTIVA DE SÃO JOSÉ. Depois da Comunhão In: MISSAL ROMANO, op. cit., p.956.

8 LEÃO XIII. Oração a São José: ASS 22 (1889-1890), 117-118. Oração contida após o texto da Carta encíclica Quamquam pluries.

9 SAGRADA CONGREGAÇÃO
DOS RITOS, op. cit.,
193.

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