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O segredo da felicidade

Redação (Terça-feira, 25-07-2017, Gaudium Press) Desde que Adão e Eva foram expulsos do paraíso, o homem vive sempre se perguntando:

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Catedral de Estrasburgo – França

– Quem não ama sua vida procurando ser feliz todos os dias? (Cf. Sl 33, 13)

De fato, no momento de sua concepção, Deus infunde na alma humana o desejo da felicidade. Como nos diz o grande Santo Agostinho, “todos os homens querem viver felizes, e não existe no gênero humano pessoa que não concorde com esta afirmação”.[1]

Dom da Integridade

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Adão e Eva – Museu do Prado – Madrid, Espanha

No paraíso Deus havia concedido ao homem o “dom de integridade”, o qual, juntamente com a Graça, lhe dava total alegria e plena felicidade.

Esse dom proporcionava ao homem a completa ordenação: a fé iluminava sua inteligência, à qual estava subalterna a vontade, inibindo assim impulsos e ações meramente instintivas.

Com o pecado original, Adão e Eva perderam o dom de integridade, bem como seus descendentes. Assim, o homem vive numa constante luta, para controlar sua vontade, que sendo inferior a inteligência e a fé, não está mais a elas subjugada.

A vontade que antes obedecia em tudo a sua inteligência, agora segue seus próprios caprichos.

Eram felizes

O Criador ao dar uma ordem a Adão era prontamente obedecido, e este a executava com a maior docilidade. Mas então, por que Adão e Eva comeram do fruto que Deus havia proibido, uma vez que possuíam o dom de integridade?…

Deus ao proibir Adão e Eva de comerem do fruto, disse: “Podes comer do fruto de todas as árvores do jardim; mas não comas do fruto da árvore da ciência do bem e do mal; porque no dia em que deles comeres, morrerás indubitavelmente.” (Gen. 2,16-17).

O demônio, porém, em forma de serpente, enganou a mulher dizendo:

-“Oh, não; vós não morrereis! Mas Deus bem sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão, e sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal.” (Gen. 3,4-5)

Com isso, despertou a curiosidade em Eva:

“A mulher, viu que o fruto da árvore era bom para comer, de agradável aspecto e muito apropriado para abrir a inteligência.”
E assim continua: “tomou dele, comeu, e o apresentou ao marido que comeu igualmente. ” (Cf. Gen. 3, 6)

Neste instante, lhes “caem as escamas” dos olhos. Foram os primeiros a constatar que com o pecado, o demônio não dá o que promete.

Comendo o fruto, aderiram ao mal, abraçaram a malícia, fruto do pecado. Comeram para alargar sua inteligência, que se fechou a ponto de não conseguirem dominar mais sua própria vontade. Eram felizes no paraíso, pois cumpriam inteiramente com a finalidade para qual todo homem foi criado: conhecer, amar e servir a Deus.

A frustração do pecado

Imaginemos um pássaro que possua uma asa torta. Se ele fosse inteligente, passaria sua existência na angustia de nunca ter voado.

Poderia ter sido feliz? Não, pois não cumpriu com a sua finalidade que é voar.

Isso foi o que ocorreu com os nossos primeiros pais. Eva ouvindo a voz da serpente insuflada pelo demônio, sucumbiu à tentação, certa de encontrar a felicidade no pecado. Foram então expulsos do paraíso tornando-se inclinados ao mal e sujeitos ao erro, passando a apresentar toda a sua vida como uma luta dramática entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas.

Fora de sua finalidade, o homem não tem felicidade, pois este desejo é de origem divina. Deus o colocou no coração humano, a fim de atraí-lo a si, pois só Ele pode satisfazer essa sede.[2] O demônio, sendo o pai da mentira, promete a felicidade com o pecado. Este entretanto, traz apenas uma fruição momentânea, e em seguida uma enorme frustração.

Desde então, o homem passou a tirar seu sustento da terra, com trabalhos penosos, todos os dias da sua vida. (Cf. Gn. 3, 17) Estabeleceu-se na alma humana uma necessidade de sofrer, pois sem isso o homem fecha-se em si mesmo, não lembrando mais da bondade e da dependência que tem em relação ao Criador. O sofrimento, então, assume um papel fundamental e insubstituível na vida humana depois do pecado original, pois nos coloca diante de Deus como seres contingentes, e nos faz recorrer a Ele.

O necessário exercício da alma

Ao se tirar o gesso de um braço quebrado, é necessário submeter-se a uma série de seções de fisioterapia para voltar ao pleno funcionamento. Se o membro não se exercitar pode acabar definhando. Porém, esse esforço nem sempre é agradável.

Se o exercício, o sofrimento, é necessário para um braço, quanto mais para a alma humana se desenvolver e recuperar aquilo que perdeu com o pecado! Quem foge do sofrimento, acaba sofrendo mais do que aquele que carrega sua Cruz. Existe na alma humana o que São Tomás denomina de “sofritiva”, que consiste numa necessidade de sofrimento, por uma finalidade sobrenatural, com vistas a purificar e santificar a alma.

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Adão e Eva expulsos do Paraíso

O maior de todos os exemplos é o Homem Deus. Estando unido à Pessoa do Verbo e conhecendo tudo, viu num só relance todos os ultrajes e padecimentos pelos quais passaria durante sua Paixão, a ponto de dizer o evangelista que Nosso Senhor sentiu aversão, pavor, tristeza e abatimento. (Cf. Mt 26,38) Antes mesmo dos algozes O tocarem, após verter abundantemente seu preciosíssimo sangue adorável, diante do oceano de dores que o esperava, profere esta sublime súplica: -“Meu Pai, se for possível afaste-se de mim este cálice. Mas faça-se a Vossa vontade e não a minha.” (Mt 26,39)

Concluiríamos que o Redentor pede clemência a Deus Pai, para ajudá-Lo no caminho do Calvário a suportar a enormidade da Cruz que haveria de carregar. Mas “faça-se a Vossa vontade e não a minha”, pois uma coisa que Ele não faria, era abandonar a Cruz. Se for a vontade do Pai, pegaria a Cruz, oscularia e a levaria até o fim.

‘Happy End’ e Sofrimento

Ao contrário do que nosso caro leitor poderia esperar com o título desse artigo, não apresentamos uma fórmula mágica de ser feliz para sempre, o famoso “final feliz” que costumamos ver nos filmes, mas o segredo da verdadeira e única felicidade possível nesse vale de lágrimas: o sofrimento aceito por amor a Deus, e o cumprimento de sua divina vontade.

A vida nesta terra sem o sofrimento, é uma funesta ilusão que acaba com a morte, pois se Deus sofreu por nós, porque seríamos covardes e fugiríamos diante de nossas cruzes, tão menores que a d’Ele?

Nossa Senhora de Lourdes disse a Santa Bernadete: “Te prometo felicidade, mas não nesta terra.”

Não temos o que temer, Deus conhece nossa fragilidade e olha as nossas aflições. Por isso deu-nos a melhor de todas Advogadas, sua própria Mãe! Peçamos a Nossa Senhora, Causa de nossa alegria, que nos dê coragem para responder “sim” como Nosso Senhor Jesus Cristo no Horto das Oliveiras, para galgar o nosso calvário e alcançarmos a felicidade eterna com Ele nos Céus.

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