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Tramas promovidas por fariseus e saduceus

Redação (Quinta-feira, 05-10-2017, Gaudium Press) João Hircano I, que reinou de 134 a 104 a.C., havia se deparado com urdiduras realizadas por fariseus e saduceus. Ambos os movimentos passaram a ter tal influência na História de Israel, que convém apresentarmos alguns dados sobre eles.

Os fariseus estipularam 603 preceitos

Escreve Monsenhor João Clá:

“A origem histórica dos fariseus remonta à restauração de Israel após o cativeiro da Babilônia. Entretanto, suas características […] se evidenciaram depois da revolta e da vitória dos Macabeus (cf. I Mac 2, 19-27), pois, opondo-se à forte influência helenista que se exercia acima de tudo sobre as camadas mais altas da sociedade, separaram-se por fidelidade às antigas tradições puras de Israel. Daí surgiu o nome de fariseu, que quer dizer separado.”

Mas os fariseus se deixaram levar por paixões desordenadas, principalmente o orgulho, e se julgavam os modelos para as outras pessoas. “Eram eles, em sua quase totalidade, os doutores da lei, também chamados escribas.”

Aos Dez Mandamentos, os fariseus acrescentaram “uma quantidade imensa de preceitos detalhados, cuja observância se impunha como o mais sagrado dever”. E o número desses preceitos chegou a 603, sendo 238 afirmativos e 365 negativos.

Os saduceus procediam de famílias sacerdotais

Os saduceus eram os pró-helenistas procedentes geralmente de famílias sacerdotais; tinham sido varridos pelo torvelinho do movimento macabeu.

Mas subsistiu sua base, “um espírito essencialmente mundano, visceralmente contrário a todo entusiasmo religioso”. Seus interesses reais se centravam muito mais na vida presente que na futura. Negavam a existência dos Anjos, a imortalidade da alma e, portanto, a ressurreição dos corpos (cf. At 23, 8).

Essa tendência, representada principalmente pelos sacerdotes de categoria superior, os “filhos de Sadoc”, recebia agora o nome de saduceus.

Após o surgimento dessas seitas, “a História judaica não será senão uma guerra de influências entre esses dois elementos contraditórios.

Aristóbulo I: prendeu sua mãe e deixou-a morrer de fome

João Hircano I, que havia sido apoiado pelos fariseus, rompeu com eles e passou a depender dos saduceus. Após sua morte, Israel foi atingido por grandes desgraças que abalaram suas instituições. Por testamento, ele determinara que, depois de seu falecimento, sua esposa seria a regente. Mas seu filho primogênito apossou-se do trono e proclamou-se rei, com o título de Aristóbulo I, acumulando os cargos de sumo sacerdote e monarca.

O primeiro ato de Aristóbulo I foi lançar sua mãe na prisão, onde ela morreu de fome. E colocou na cadeia três de seus irmãos, deixando um deles em liberdade, Antígono.

Depois, Aristóbulo I, enredado por trapaças de inimigos, acabou ordenando que seu irmão, Antígono, fosse assassinado. E, torturado por remorsos, morreu. Reinou apenas por um ano.

Alexandre Janeo mandou crucificar 600 judeus

Seu irmão, Alexandre Janeo, conseguiu sair da prisão onde estava recluso, tomou o trono e logo ordenou a morte de um de seus irmãos.

Tendo efetuado muitas guerras, certo dia Alexandre, que era também sumo sacerdote, entrou no Templo. A multidão que ali estava protestou, aos gritos, contra sua maldade. Ele, então, reuniu seus soldados e se lançou contra o povo; em pouco tempo “6.000 cadáveres cobriam as calçadas sagradas”.

Os fariseus armaram o povo e o saduceus protegeram Alexandre Janeo. “A luta se prolongou por seis anos, e custou a vida de mais de 50.000 judeus.”

Em determinada ocasião, Alexandre prendeu 600 judeus que se opunham a ele. Levou-os a Jerusalém, onde cada um foi amarrado em uma cruz, e depois todos foram degolados diante de suas esposas e seus filhos. A tudo isso Alexandre Janeo assistia do terraço de seu palácio, situado em frente, no qual oferecia um festim a suas mulheres e concubinas.

Passado certo tempo, Alexandre Janeo caiu no vício do alcoolismo e morreu aos 49 anos de idade, em 76 a. C.; sua mulher, Salomé Alexandra, tornou-se rainha.

Desponta Herodes, o Idumeu

Ela manteve boas relações com os fariseus ao longo dos nove anos de sua reinado (76-67 a. C.), o que lhe assegurou autoridade e ausência de guerras em Israel. Flávio Josefo, que era fariseu, elogia Salomé Alexandra, mas seu testemunho “se ressente talvez da parcialidade da seita”.

E Alexandra foi também envolvida por tramas dos saduceus. Na realidade, os fariseus e os saduceus se entredevoravam “sobre o cadáver da pátria”.

Salomé faleceu aos 73 anos de idade; seu filho mais novo, desrespeitando o direito do primogênito Hircano II, subiu ao trono, com o título de Aristóbulo II, apoiado pelos saduceus.

Os três primeiros anos de sua administração transcorreram em relativa calma. Entretanto, a ambição dos fariseus encontrou um auxiliar novo, Antípatro ou Antipas, pai de Herodes, chamado “o Grande”, mas que o Padre Darras denomina de “o Idumeu”. Escreve São João Bosco: O título “Grande” “só lhe pode caber pela sua grande crueldade”.

A Idumeia, situada ao Sul do Mar Morto, tinha sido anexada à Judeia por Hircano I. E a Rainha Alexandra nomeou governador dessa região Antípatro, que foi apoiado pelos fariseus.

Por Paulo Francisco Martos
(Noções de História Sagrada – 124)

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1 – CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, v. VI, p. 151-152.
2 – SCHURER, Emil. Historia del Pueblo judio en tiempos de Jesus. Madrid: Cristiandad. 1985. v. I, p. 23.
3 – Cf. FRANZERO, C. M., The memoirs of Pontius Pilate, p. 215. Apud HERRERA ORIA, Ángel. La palavra de Cristo. Madrid: BAC, 1955, v. 3, p. 866.
4 – SCHURER, op. cit., p. 281.
5 – DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église depuis la Création jusqu’à nos jours.
Paris : Louis Vivès. 1869. v. IV, p. 38.
6 – Cf. SCHURER, op. cit., p. 281.
7 – DARRAS, op. cit., v. IV, p. 50.
8 – Idem, ibidem, p. 50.
9 – Cf. DARRAS, op. cit., p. 52.
10 – Cf. HERRMANN, Siegfried. Historia de Israel en la época del Antiguo Testamento. 2. ed. Salamanca: Sígueme. 1985, p. 469.
11 – DARRAS, op. cit., p. 57.
12 – DARRAS, op. cit., p. 60.
13 – SÃO JOÃO BOSCO. História Sagrada. 10 ed. São Paulo: Salesiana, 1949, p. 196.

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