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O que mais alimenta

Redação (Quinta-feira, 04-01-2018, Gaudium Press) As festas de final de ano, se vividas de forma cristã, são uma ocasião para que os fiéis possam dar um maravilhoso testemunho do amor de Deus junto aos demais.

O período das celebrações podemos delimitá-lo entre duas solenidades: 08 de dezembro e 06 de janeiro, a Imaculada e a Epifania. Em todo o orbe católico, mas especialmente na Espanha, essas duas datas têm um sabor especial. Além disso, é claro que está, o Natal e o Ano Novo. Em todo caso, este tempo se enraizou muito na mentalidade católica e ainda tem um impacto na sociedade.

Somos um composto de espírito e matéria. Atender a dimensão sobrenatural é o que deve prevalecer nas festas de fim de ano: a Oração, a Eucaristia, as obras de misericórdia, uma boa confissão… Que melhor maneira de celebrar?

Mas acontece que o alimento também tem um papel importante nas celebrações. Porque o fato de comer não se faz apenas para combater a fome ou encher o estômago, mas para compartilhar com os outros, na alegria de estar juntos. Quase que o alimento é uma desculpa para reencontrar e conversar com familiares e amigos. Entre parênteses, esta concepção não é exclusiva da nossa cultura; é também patrimônio de muitas outras.

Em ocasiões em que se celebram coisas importantes, logicamente se procura comer melhor. E quanto maior o motivo da festa, o ideal é que o alimento seja mais excelente, tanto em seu gosto quanto na apresentação.

Embora permaneçam no mundo restos de bom senso, bom gosto e, sobretudo, de Fé teológica, ainda se poderá perceber nos países de tradição católica, que estamos no Natal ou em Reis e que se ama Nossa Senhora.

Nós dizemos “enquanto subsistam”, porque uma avalanche de paganismo vai pervertendo a vida social, expulsando todo sinal da verdadeira religião. E quando não é o paganismo declarado, é o reino da trivialidade… Que tristeza!

Mas é verdade que em meio dessa deserção generalizada, há exceções e algumas muito honrosas. Em muitos lugares se pode desfrutar de belas cerimônias litúrgicas e de ambientes dignos e elevados que são um presente para a alma e para o corpo; não se trata de mera “subsistência”, há vitalidade!

Sintomáticos dessas manifestações de vigor, são as opiniões expressas por um tal Pepe Rodríguez, personagem célebre para alguns e desconhecido para outros.

De quem se trata? Este senhor é um chef de cozinha espanhol que tem uma estrela Michelin em seu restaurante em Illescas, não muito longe de Toledo. É jurado do Masterchef, vencedor do Primeiro Prêmio de Gastronomia, de prêmios de Melhor Cozinheiro do Ano, o Melhor Chefe e o Melhor Empresário… Como se vê, é “alguém” no mundo do bom comer.

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O jornal on-line Aleteia publicou uma entrevista com Pepe Rodríguez que foi originalmente estampada na revista católica Misión da Espanha de agosto a novembro de 2017. Eis aqui alguns trechos que nos interessam particularmente:

“Pergunta: E quem é Deus para Pepe? Resposta: É a força, o motor de tudo. O que te faz estar no bom, no ruim e no regular. Não sei se às vezes eu fico muito atrás e não explico que sou cristão, mas não me vejo dando explicações, mas demonstrando isso no que faço.

Pergunta: Se surpreendem ao vê-lo na Missa? Resposta: Em Illescas não. Só quando eu saio. Levo a vida toda assistindo missa e me reconheço dentro da Igreja.

Pergunta: Acostumado a comer bem, quando comunga, como se alimenta? Resposta: Como nenhuma outra coisa. Comungar é o que mais me alimenta. Às vezes, há pessoas que, depois de comer, me dizem: ‘Me emocionei, quase levitei’. E eu penso: ‘Isto é estúpido’. Eu amo comer e faço isso nos melhores restaurantes, mas nunca me emocionei ao comer. Ao comungar, sim. O alimento espiritual não tem comparação”.

Que testemunho valioso! “Comungar é o que mais me alimenta”; “Eu nunca estive emocionado comendo. Ao comungar, sim”.

Estupendas são as opiniões deste amigo de Deus e da arte culinária, que bem poderão ser uma motivação para os que abdicam da espiritualidade nas celebrações de final do ano, ou desesperam por optar pela excelência de uma mesa bem servida, em casa ou no restaurante. A sobrevivência das tradições não pertence ao âmbito dos sonhos melancólicos, mas ao da comunicação; porque a tradição significa costume que se transmite de geração em geração.

Ao ler as declarações do chef toledano, pode-se supor que celebrará as festas natalinas à altura das circunstâncias, quer dizer, adorando ao Senhor na Eucaristia e festejando com uma refeição de qualidade. Porque bem o disse e sem tabus: “Eu amo comer…”.

Quem professa com essa clareza e sem respeito humano que “Deus é o motor de tudo”, que “leva toda a vida assistindo a Missa”, e que “comungar é o que mais alimenta”, provavelmente não é um diplomado em teologia nem um sacristão paroquial. É um homem do mundo… que não é o mesmo que um “mundano”.

É necessário encorajar-se a romper esquemas remando contra a corrente, e celebrar coerentemente as efemérides da nossa Fé professando a harmonia existente entre a Fé, a cultura e a vida.

Por Padre Rafael Ibarguren, EP

(Publicado originalmente em https://www.opera-eucharistica.org/)

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

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