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Sete anos no Egito

Redação (Segunda-feira, 28-02-2018, Gaudium Press) – Existiam profundos desígnios da Providência na escolha do Egito como destino da Sagrada Família, que fugia da sanha criminosa de Herodes.

Conhecimentos científicos transmitidos por Adão e Eva

Para melhor compreendê-los, resumiremos alguns comentários do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira acerca desse fascinante povo.

Cada nação da Antiguidade possuía uma vocação específica com vistas a reparar o plano primeiro de Deus rompido com o pecado original. Se os gregos reluziam por um chamado peculiar para a Filosofia, os romanos para o Direito, e os hebreus eram o povo depositário da Revelação, aos egípcios, por particular dileção divina, coube receber a herança de determinados conhecimentos científicos do Paraíso, transmitidos por Adão e Eva a seus descendentes.

O povo egípcio “nunca é considerado em estado de pré-história. Não se descobriu um estado intermediário entre o homem da caverna e o Egito organizado”. Os egípcios, portanto, deveriam “guardar tudo quanto sabiam de sapiencial sobre a ordem do universo, vindo do tempo do Paraíso, e partir disso para construírem uma ordem temporal perfeita […]

“O Egito conservava uma continuidade com a justiça primitiva e era chamado a ser o povo da gentilidade que abriria os braços para Israel. Era a porta de Israel para o mundo.”.

Explica Mons. João Clá: “Obviamente esse plano primitivo não se cumpriu, dada a constante infidelidade de ambos os povos. Já a providencial ida de José, filho de Jacó, ao Egito havia sido uma tentativa de reativar esse projeto divino, objetivo em parte atingido com a grande influência adquirida pelo patriarca na corte do faraó, o que sem dúvida propiciou um influxo positivo sobre toda a sociedade egípcia. Os acontecimentos posteriores, porém, derrubaram por terra o que teria sido uma interessante cooperação entre as duas nações, muito antes da vinda do Redentor.”

Certas realizações dos egípcios são até hoje enigmáticas para a Ciência, em seus pormenores. “A inegável atração exercida pelos mistérios do Egito provinha do encanto natural desse povo, mais tarde, infelizmente, muitíssimo aproveitado pelo demônio para conduzir certo filão de almas para o ocultismo.”

José do Egito e São José

“A partir dessas considerações, não é descabido encontrar uma ligação com José do Egito na imprevista viagem comandada por um varão de mesmo nome. O plano de Deus com essa fuga consistia em fazer com o Menino Jesus o mesmo que se dera com o filho de Jacó. Ali chegando, os egípcios não demorariam em relacionar esse judeu chamado José com o hebreu que, séculos antes, marcara a história de seu povo. Se os descendentes dos súditos do faraó correspondessem à graça, São José e Nossa Senhora ganhariam a simpatia de todos, alcançando, mais uma vez, a cúpula do reino […]

“Desse modo, a expansão da primitiva Igreja dar-se-ia mais através do Egito, devido ao charme deste povo, que por meio de Roma, inicialmente chamada a um eficaz papel organizativo.”

O Profeta Isaías predissera: O Senhor “vem ao Egito. Os ídolos do Egito tremem diante d’Ele” (Is 19, 1). “Quando a Sagrada Família ingressou no Egito, iniciou-se um impressionante fenômeno. Logo que eles chegavam a uma cidade, os deuses falsos, abrigados em suntuosos templos, ruíam de forma inexplicável e os demônios que os sustentavam com prodígios eram expulsos por ação de uma imperiosa força divina cuja origem ignoravam, para sua maior humilhação. Isso acontecia a fim de incutir nos habitantes daquelas povoações respeito pela Sagrada Família, e assim prepará-los para aceitar a graça que Deus lhes dava com a sua passagem.

A Sagrada Família novamente residiu numa gruta

“Entretanto, quando o demônio percebeu que a Sagrada Família se aproximava de um território tão chamado, mas sobre o qual ele tinha grande domínio, promoveu antipatias contra ela antes mesmo de sua entrada no país. Fazia crer aos governadores e pessoas influentes que aquele Casal de judeus, sendo de estirpe real, desejava mais uma vez alçar-se ao poder, como ocorrera com José e Moisés, mas depois lançaria pragas e castigos contra a nação. A derrubada dos ídolos contribuía para acentuar essa sensação de insegurança. Entende-se, pois, por que a Sagrada Família foi extremamente maltratada no Egito, suportando atrozes sofrimentos.

“Quando chegou ao país, o Santo Casal estava em completa pobreza. São José havia levado recursos para enfrentar a nova situação, é verdade, mas com tantas dificuldades perdera tudo pelo caminho. Na primeira cidade onde aportaram, repetiu-se a cena de Belém. Percorreram as hospedarias pedindo auxílio, mas ninguém os acolheu, até que, por fim, dirigiram-se novamente a uma gruta, onde residiram durante algum tempo.

“São José voltou a trabalhar como carpinteiro […] e Nossa Senhora também Se dedicava a labores manuais a fim de ajudar seu esposo na manutenção do lar. Aos poucos, com muito esforço, suas posses foram aumentando até ser-lhes possível levar uma vida normal numa casa retirada e humilde.

“Com o tempo eles ganharam a estima dos mais próximos, sobretudo da comunidade judaica da região”, que era bastante numerosa. Nessa época, aproximadamente “um milhão de judeus vivia no Egito.”

Sete anos após a fuga da Sagrada Família para o Egito, o ímpio Herodes Idumeu faleceu, depois de passar por sofrimentos terríveis: um apetite insaciável o forçava a engolir sem cessar alimentos que não o satisfaziam; úlceras purulentas lhe corroíam as entranhas e lhe arrancavam gritos de dor. Vermes devoravam seu abdômen, exalando um odor fétido e insuportável. “Em semelhante estado, sofrendo as penas de um Inferno antecipado, sem indício algum de arrependimento veio a morrer.”

Então, obedecendo ao Anjo que lhe apareceu em sonho, São José tomou Jesus e Nossa Senhora e regressaram a Israel (cf. Mt 2, 19-21). A Sagrada Família estabeleceu-se em Nazaré, na mesma casa em que residia anteriormente.

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada” – 141)

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1 -Apud CLÁ DIAS, João Scognamiglio, EP. São José: quem o conhece?… São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae. Arautos do Evangelho. 2017, p. 286-287.

2 – CLÁ DIAS, João Scognamiglio, EP. São José: quem o conhece?… São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae. Arautos do Evangelho. 2017, p. 285.288.291 passim.

3 – TUYA, OP, Manuel de. Biblia comentada. Evangelios. Madrid: BAC, 1964, v.V, p.42.

4 – Cf. DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église depuis la Création jusqu’à nos jours. Paris : Louis Vivès. 1869. v. IV, p. 346.

5 – SÃO JOÃO BOSCO. História Sagrada. 10 ed. São Paulo: Salesiana, 1949, p. 213.

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