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Os pressentimentos de Maria

Redação (Quinta-feira, 29-03-2018, Gaudium Press) Vejamos, nesta Quinta-feira Santa, o que escreveu o Padre Jacques-Marie-Louis Monsabré, OP, sobre os pressentimentos e aceitação das dores e sofrimentos da Mãe Dolorosa a propósito da ‘espada de dor’ que traspassaria seu coração.

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-Maria apresentou seu Filho no Templo, o santo ancião Simeão disse-Lhe: “Uma espada de dor transpassará tua alma” (Lc 2, 35). Cumpriu-se já a profecia. Maria sofreu quando levou para uma terra estrangeira seu Filho perseguido; sofreu quando O procurou tão ansiosamente depois de O ter perdido; sofreu quando O viu reduzido, durante sua vida pública, a pedir o pão da caridade, a não ter uma pedra onde repousar a cabeça; sofreu quando as profecias do Salvador, anunciando sua Paixão e sua pavorosa Morte, Lhe recordaram os terríveis oráculos que Ela lia outrora no Templo.
Mas eis que chega o dia de sua maior dor.

Enquanto os discípulos dormem, Maria reza

Jesus saiu do Cenáculo. Ela sabe para onde Ele vai e, embora afastada do teatro de sua agonia, recebe em seu Coração seus misteriosos contragolpes. Enquanto os discípulos escolhidos dormem e esquecem o seu Mestre, Ela permanece em vigília e reza. Seus pressentimentos maternos Lhe apresentam com todo o seu horror a cena do Getsêmani.

29-Os pressentimentos de Maria.jpgAssim como Jesus, Ela Se sente invadida pelo tédio, pelo medo e pela tristeza. E com Ele exclama: “Minha alma está numa tristeza mortal” (Mc 14, 34). Ao mesmo tempo que Ele, prosterna-Se com o rosto por terra; como Ele, pede a Deus:
“Pai, Pai, afasta de Mim este cálice – Pater mi, transeat a me calix iste” (Mc 14, 36).

Engano-me: Maria consente em beber até o fim o cálice de todas as dores, mas gostaria que ele fosse poupado a seu querido Filho. Ela é Mãe, e ama mais terna e generosamente do que todas as mães.

“Meu Pai, Pai de meu Bem-amado” – diz Ela -, “por que golpeais o Inocente? Conheceis tão bem quanto Eu, melhor do que Eu, este doce Cordeiro. Ele é, no Céu, o esplendor de vossa substância, a imagem de vossa glória; e Eu, desde que senti os primeiros estremecimentos da maternidade até este triste dia, sempre O tenho visto cheio de graça, de sabedoria e de bondade.

Ele Se submeteu a vossas santas leis, nutriu-Se de vossa vontade adorável, não fez senão o bem ao passar pela terra; piedade, piedade para Ele! Castigai os pecadores, dos quais Ele tomou a semelhança; castigai-Me a Mim, sua indigna Mãe, mas n’Ele não toqueis; não permitais que Eu sinta o amargo arrependimento de ter pronunciado sua sentença de morte, dizendo ‘faça-se’ a vossas gloriosas promessas. Pai, retirai de seus lábios o cálice. Pater, transeat ab illo calix iste”.

É preciso que a temível justiça seja satisfeita

Não Se deixará Deus dobrar por esta tocante oração de uma Mãe?

Não, cristão, é preciso que sua temível justiça seja satisfeita. Divinamente iluminada pela graça, Maria compreende esta exigência e vê a salvação do mundo na misericordiosa substituição dos culpados pelo Inocente. Com Jesus, Ela Se submete à vontade do Pai Celeste; com Jesus, Ela agoniza; com Jesus Ela morreria se não estivesse, como Jesus, sustentada pela força do Alto.

Ó Mãe dolorosa! Não contente de ter tomado parte no lúgubre combate travado pelo Filho de vossa carne no Jardim das Oliveiras, quereis unir-Vos ao combate de vossos filhos adotivos. Essas lutas se renovam todos os dias, a cada momento, tão numerosos são os inimigos que temos em nós, em torno de nós; tanto somos afligidos pelas contradições, pelas enfermidades, pelas misérias de nossa vida terrena.

Seremos nós mais fortes que os Apóstolos?

Por vezes a luta é tão forte, que nós também nos sentimos assaltados por uma tristeza mortal, e nossa alma, saturada de desgostos, perturbada pelo pavor, está prestes a despencar do desânimo no desespero. Bem nos advertiu Jesus: “Vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26, 41).

Mas seremos nós mais fortes que os Apóstolos, para resistir ao sono funesto que deve garantir o triunfo da tentação? Infelizmente, fizemos muitas vezes a experiência de nossa fraqueza! Temos necessidade de sentir perto de nós a presença e de ouvir a voz de uma Mãe. Saúde dos Enfermos, Refúgio dos Pecadores, Consoladora dos Aflitos, Socorro dos Cristãos, vigiai e orai conosco, para sairmos vencedores de todos os combates desta vida: vencedores pela firme resolução de jamais ofender a Deus, aconteça o que acontecer; vencedores pela paciência e pela resignação à vontade de Deus em todos os nossos males.

(MONSABRÉ, OP, Jacques-Marie-Louis. “Petites
méditations pour la récitation du Saint Rosaire”.
Paris: Lethielleux, 1924, p.109-113, in “Revista Arautos do Evangelho, abril, 2018)

 

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